17/11/2020

Mateus 17

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Roberto Costa

O Evangelista Mateus inspirado por um Anjo, Rembrandt

Introdução e 1º Capítulo

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INTERPRETAÇÃO ESOTÉRICA DO EVANGELHO DE SÃO MATEUS

Compilada de textos de Max Heindel, Corinne Heline e John P. Scott

por Roberto Gomes da Costa

"A Bíblia foi dada ao Mundo Ocidental pelos Anjos do Destino,

que dão a cada um e a todos exatamente aquilo que necessitam

para o seu desenvolvimento.”

 MAX HEINDEL

INTRODUÇÃO

Max Heindel nos diz no Conceito Rosacruz do Cosmos que aqueles que escreveram a

Bíblia não tiveram a intenção de mostrar de forma aberta a Verdade, de modo que

todos pudessem lê-la e entendê-la. “Muitas passagens são veladas, outras podem ser

entendidas literalmente”. “Quem não tenha a chave oculta não é capaz de entender a

verdade profunda escondida frequentemente sob vestes estranhas.”

Considerando ser a Bíblia um dos livros mais consultados de todos os tempos e que

sua interpretação esotérica pode mostrar, de forma muito clara, quando corretamente

interpretada, a que está destinado o ser humano em sua evolução espiritual, o Centro

Autorizado do Rio de Janeiro resolver editar textos que tratam da interpretação

esotérica do Evangelho de São Mateus.

No livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas, Vol I, na pergunta de número 78,

é afirmado que, embora os Evangelhos contenham em linhas gerais a vida de um

indivíduo chamado Jesus, são, na realidade, fórmulas iniciáticas que mostram as

experiências pelas quais todos devemos passar ao trilhar o caminho que leva à

verdade e à vida. Continuando, o texto diz que esse caminho foi vislumbrado pelos que

escreveram a Bíblia, que eram profetas e videntes, porém em uma amplitude

compatível com o tempo em que viveram. Em uma nova era será necessária uma nova

Bíblia, uma nova Palavra.

A obra de John Scott, “The Four Gospels Esoterically Interpreted”, impressa em

Oceanside, CA, The Langford Press e editada em 1937 é a base principal desses textos,

sendo complementada por escritos de Max Heindel e de Corinne Heline. O texto é uma

tradução livre dessa obra, resumida em alguns trechos, complementada pelos autores

acima citados, tendo por objetivo divulgar o entendimento dos Evangelhos como uma

abordagem inicial do tema, para que mais pessoas se interessem sobre a matéria e

decidam trilhar o caminho espiritual oferecido pela Fraternidade Rosacruz, quando 

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então se aprofundariam mais no assunto. O Sr. Scott, espiritualista estudante da

Filosofia Rosacruz, foi contemporâneo de Corinne Heline, quando ainda era conhecida

por seu nome de solteira, Corinne Dunklee, quem ele reconhece como pioneira, além

de Max Heindel e outros, em sua página inicial de agradecimentos.

Como se trata de uma interpretação esotérica dos Evangelhos, ela não pode prescindir

de um conhecimento mínimo da evolução espiritual humana, o que é suficientemente

suprido pela Filosofia Rosacruz, por meio do Conceito Rosacruz do Cosmos.

Como o Capítulo I do Evangelho trata da Genealogia de Jesus, convém esclarecer o que

a Filosofia Rosacruz afirma sobre Cristo Jesus. De acordo com os Ensinamentos

Rosacruzes, conforme apresentado no Conceito Rosacruz do Cosmos, em seu Capítulo

XV – Cristo e Sua Missão, item JESUS E CRISTO-JESUS, Cristo é o mais elevado Iniciado

do Período Solar. À humanidade ordinária daquele Período pertenciam os que agora

são chamados de Arcanjos.

Os Iniciados, como esclarece o Conceito, são capazes de desenvolver veículos

superiores para eles mesmos. Ordinariamente, o veículo inferior de um Arcanjo é o

corpo de desejos. Cristo, o mais elevado Iniciado do Período Solar emprega geralmente

o Espírito de Vida como veículo inferior, onde funciona tão conscientemente como nós

no Mundo Físico.

Jesus pertence à nossa humanidade. Viveu sob vários nomes, em diferentes

renascimentos, do mesmo modo que qualquer ser humano, o que não sucedeu como

Ser Cristo, para o qual só se pode encontrar uma única encarnação. Jesus, no entanto,

não era um ser comum, que percorreu o Caminho da Santidade por muitas vidas,

preparando-se para a maior honra jamais obtida por um ser humano. Jesus era filho de

Maria, ser da mais elevada pureza e que por isso foi escolhida para ser a mãe de Jesus.

O pai, José, era um elevado Iniciado, capaz de realizar o ato da fecundação como um

sacramento sem nenhum desejo pessoal. Por isso, Jesus veio ao mundo num corpo

puro, o mais perfeito que se poderia produzir na Terra.

Como já foi dito, o corpo de desejos era o veículo mais inferior construído pela

Hierarquia dos Arcanjos e assim não conviria que um Ser da Estatura de Cristo gastasse

Sua preciosa energia na construção dos veículos que faltavam para cumprir Sua missão

no Mundo Físico, em nosso planeta. Além disso, era conveniente que Cristo pudesse

aquilatar os problemas da humanidade através dos olhos de um ser humano para

poder oferecer a melhor ajuda possível para a humanidade. Assim, Cristo usou dos

corpos físico e vital de Jesus, penetrando nesses corpos quando Jesus atingiu os trinta

anos de idade, empregando-os até o final de Sua Missão no Gólgota.

Max Heindel termina este item dizendo: “Assim, conhecemos a natureza de Cristo, o

Iniciado mais elevado do Período Solar, que tomou os corpos denso e vital de Jesus

para poder funcionar diretamente no Mundo Físico e aparecer como um homem entre 

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homens. Se seu aparecimento se desse de forma milagrosa, estaria em desacordo com

o Plano Evolutivo, porque, ao final da Época Atlante, a humanidade obteve a liberdade

de agir bem ou mal. Para aprender a dominar-se, não podia ser empregada sobre ela

nenhuma coação. Devia conhecer o Bem e o Mal por meio da experiência. Antes desse

tempo, os homens tinham sido conduzidos, voluntariamente ou não, mas, depois, deuse-lhes a liberdade, sob diferentes Religiões de Raça, cada uma delas adaptada às

necessidades de cada tribo ou nação”.

Para complementar o assunto, é interessante ouvir o que nos diz Corinne Heline a

respeito da Missão de Cristo, em seu livro New Age Bible Interpretation, New

Testament, Vol IV, no trecho em que fala de Cristo e Sua Missão, Capítulo 1:

“Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Nenhum homem chega até Mim a não ser que

Meu Pai o chame”, disse Cristo. Corinne Heline explica que somente pela encarnação

do Espírito de Cristo em nosso planeta foi tornado possível qualquer progresso

espiritual adicional para a humanidade.

Ela prossegue dizendo que o Regime do Antigo Testamento estava sob a regência dos

Espíritos de Raça liderados por Jeová. Ele deu ao homem a Lei, os Dez Mandamentos,

pelos quais o homem deveria pautar sua vida, sendo recompensado pela obediência e

punido pela desobediência. Sob o Regime de Jeová a cristalização era inevitável e a

vida de Cristo trouxe um novo Regime através do qual o homem despertaria seu Cristo

Interno. O Amor tornou-se a motivação da vida e através dele se daria o cumprimento

da Lei.

A vida do Cristo Cósmico foi manifestada através de Jesus para que todos pudessem

ser salvos das consequências de seus malfeitos determinadas pela Lei de Causa e

Efeito. Como a grande Luz do Cristo Cósmico permeou a Terra no momento da

Crucificação, um novo impulso espiritual iniciou seu trabalho no coração de nosso

planeta. Essa força está mudando gradativamente as condições da Terra de modo a

torná-las mais favoráveis a uma maior sensibilização do ser humano, preparando-o

para um contato mais próximo com o Espírito e o poder de Cristo. Corine Heline

conclui que, a cada renascimento da Vida de Cristo na Terra no Natal, o véu entre o

visível e o invisível se torna mais transparente e um crescente número de pessoas

adquirem um estado de consciência através do qual podem proclamar

triunfantemente que a morte não existe.

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CAPÍTULO 1

A GENEALOGIA DE JESUS

Na mesma obra citada de Corinne Heline, quando fala do Rito da Imaculada

Concepção, é dito que o Evangelho de São Mateus se inicia com a Genealogia do

homem Jesus. O Cristianismo Esotérico ensina que, embora Jesus seja o Ego mais

espiritualmente avançado que viveu sobre a Terra e tenha sido o ser puro e santo que

foi, ele pertencia, não obstante, à onda de vida humana e veio à Terra para revelar as

possibilidades espirituais que todos poderiam alcançar

Segundo John Scott, os nomes que compreendem a genealogia de Jesus, o magno

representante da raça humana, no primeiro capítulo de Mateus, nos dizem

esotericamente qual foi a evolução da humanidade desde que deixou os mundos

celestiais para imergir na matéria, até que cada um de nós consiga desenvolvimento

espiritual suficiente para realizar as bodas alquímicas entre a mente e o coração. A

seguir descrevemos a interpretação esotérica feita por John Scott sobre a genealogia

de Jesus.

“O livro da genealogia de Jesus, o filho de Abraão. Abraão gerou a Isaac, Isaac a Jacó;

Jacó, a Judá e a seus irmãos.”

Abraão, o primeiro, significa o “pai da multidão”. Isso também significa que nós,

espíritos virginais, viemos do Pai Celestial para o Jardim do Éden, no mundo etéreo. É a

mesma história de Adão e Eva, que representam os pólos masculino e feminino da

humanidade.

Isaac quer dizer “alegria e sorrisos”, pois nesses dias da infante humanidade tudo era

felicidade no Jardim do Éden, antes de descermos mais na materialidade.

Isaac gerou a Jacó, que significa “o que supera”, ou seja, essa condição de felicidade foi

superada por outra não tão feliz, prenunciando o drama cósmico da queda.

Jacó gerou a Judá e seus irmãos. Judá quer dizer “louvor”, ou seja, a humanidade

continuava a louvar a Deus mesmo depois de as condições de felicidade plena terem

sido superadas.

“Judá gerou de Tamar a Perez e a Zerá; Perez gerou a Esrom; Esrom a Aarão.”

Perez quer dizer “quebra”, significando o tempo em que nossos ancestrais comeram

da Árvore do Conhecimento, causando a queda do ser humano simbolizada pela

expulsão de Adão e Eva do Paraíso, o Jardim do Éden.

Tamar, a mãe de Perez e Zerá (nascer do Sol) significa “palmeira”, que possui ambos os

órgãos sexuais masculino e feminino. Interpretado esotericamente, a “queda” se deu

após a divisão da humanidade em sexos e quando o Sol apareceu claramente pela 

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primeira vez no antigo continente Atlante. Por ser um símbolo de fertilidade, a

palmeira indica também que a humanidade tomou em suas mãos o uso irrestrito da

função criadora.

Perez gerou a Esrom, que quer dizer “casa”, ou seja, a primitiva humanidade começou

a construir corpos densos, que eram habitações para seus espíritos, por conta própria.

Aarão quer significar bairros da Síria e Mesopotâmia, onde Mesopotâmia significa “o

país de dois rios”. Esses dois rios significam os pólos sexuais da humanidade, através

dos quais foi acelerada a descida da consciência do ser humano na Região Química da

Terra.

“E Aarão gerou Aminadabe; Aminadabe a Naassom e Naassom a Salmon.”

Aminadabe significa “familiar dos príncipes”, o que quer dizer que em um certo tempo

de nosso desenvolvimento recebemos a ajuda de hierarquias espirituais, descritas

como príncipes, em nosso aprendizado.

Aminadabe gerou Naassom, que significa “alquimista”. Como um resultado daquela

ajuda mencionada acima, alguns seres humanos puderam realizar práticas alquímicas,

na tentativa de buscar o ouro espiritual.

Salmon foi gerado a seguir por Naassom. Salmon quer dizer “traje”. As práticas

alquímicas puderam gerar o Traje dourado de bodas, ou seja, o desenvolvimento dos

éteres superiores.

“Salmon gerou de Raabe a Boaz; este, de Ruth gerou a Obede; e Obede, a Jessé.”

Boaz significa “força”, que nos é proporcionada pelo traje de bodas, pois pode

atravessar obstáculos sólidos, se deslocar no espaço, etc. É dito que Boaz é filho de

Raabe, uma prostituta. Isso significa que o princípio feminino da força criadora, usado

ainda pela humanidade principalmente para gratificação dos sentidos, quando

conservada e usada para a regeneração, confere aquela força ao indivíduo.

Obede significa “veneração”, pois quando atingimos esse estágio na evolução,

veneramos verdadeiramente a Deus. Obede é filho de Ruth, que significa “amiga”,

mostrando que o princípio feminino é um grande amigo dos que evoluem, quando

usado para a regeneração.

Jesée significa “um presente”. Quando produzimos Jessé em nós mesmos, oferecemos

um presente a Deus, ao serviço dos demais.

“E Jessé gerou a David, o Rei; e David o Rei gerou a Salomão, da que fora mulher de

Urias.”

O passo seguinte ao de dedicar nossas vidas ao serviço desinteressado é o de nos

tornarmos David, ou “o amado de Deus”. Seremos então reis e sacerdotes, 

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trabalhando ao longo das linhas físicas e espirituais. O significado esotérico de Salomão

é “paz e sabedoria”. A mãe de Salomão, Betsabá, significa “a filha do juramento”. A paz

e a sabedoria é o que alcançamos quando é feito o voto e cumprido de ter a natureza

inferior de nosso ser a serviço da natureza superior.

Segundo John Scott, esta primeira parte da genealogia acima apresentada mostra o

desenvolvimento místico ou o desenvolvimento espiritual obtido quando a Força da

Vida sobe através do coração (místico). A segunda parte (versículos seguintes) irá

mostrar o desenvolvimento obtido quando a Força da Vida sobe pela coluna vertebral

até a cabeça (ocultista).

“ E Salomão gerou a Roboão; Roboão a Abias; Abias a Asa.”

Salomão, o princípio da sabedoria, gerou Roboão, que significa o que engrandece o

povo. O povo simboliza a consciência ordinária da massa. Por conseguinte, quando

adquirimos sabedoria, nossa consciência comum cresce.

Abias significa seguinte e Asa, médico. Isso quer dizer que o que se segue à expansão

de consciência é a necessidade do homem aprender a curar-se a si mesmo, já que a

enfermidade seguiu-se ao uso indevido da função criadora. A humanidade aprende,

pelas consequências, a conhecer a Lei de Causa e Efeito.

“Asa gerou a Josafá; Josafá, a Jorão; Jorão a Uzias.”

Josafá significa Jeová julga. A humanidade começa a perceber a justeza da Lei Mosaica,

que é a expressão da Lei de Causa e Efeito e a oportunidade de trabalhar sobre as

consequências da Lei (karma). Jorão quer dizer exaltação a Jeová, por Sua justeza.

Ozias significa Jeová é a minha força, um reconhecimento que só somos alguma coisa

em Deus.

“Uzias gerou a Jotão; Jotão a Acaz: Acaz a Ezequias.”

Uzias quer dizer Deus é perfeito e simboliza o despertar da consciência humana a

respeito da perfeição de Deus. Acaz quer dizer ele foi capturado e Ezequias ele foi

fortalecido por Deus, ou seja, o Espírito que foi capturado por Deus é n’Ele fortalecido.

“Ezequias gerou a Manassés; Manassés a Amon; Amon a Josias.”

Manassés significa o que promove o esquecimento. A humanidade tem a tendência a

esquecer seu passado espiritual. A Bíblia diz que após o período da história hebraica

indicada por Manassés os judeus foram levados à Babilônia. Isso significa que a mente

desce a um estado de consciência inferior. Entretanto, a mente é o ponto de apoio do

Espírito e mais cedo ou mais tarde será espiritualizada. Amon significa exatamente o

mestre obreiro, que seria função para a qual a mente foi criada para dar suporte ao 

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Espírito. Josias quer dizer apoiado por Deus, que é a meta da mente de adquirir a

consciência superior.

“Josias gerou a Jeconias e a seus irmãos, no tempo do exílio na Babilônia. Depois do

exílio na Babilônia, Jeconias gerou a Salatiel; Salatiel a Zorobabel. Zorobabel gerou a

Abiúde; Abiúde a Eleaquim; Eleaquim, a Asor”.

Jeconias significa Deus estabelece. A mente é levada à tentação na Babilônia, mas

quando clama por Deus, o significado de Salatiel, atinge à consciência superior. Isso

mostra que quando a mente cai, clamamos por Deus para que possamos entender

porque fomos tentados e assim não cairmos mais em tentação. Zorobabel significa

nascido na Babilônia, indicando a experiência adicional que ganhamos com a mente

durante o período em que foi prisioneira da consciência inferior. Como um resultado,

há um maior entendimento da majestade de Deus, simbolizado por Abiúde – meu pai

é majestade. A humanidade fica então mais firmemente estabelecida, o significado de

Eliaquim, o que é feito com a grande ajuda de seres espirituais, o significado do nome

Azor.

“Azor gerou a Sadoc; Sadoc gerou Aquim; Aquim a Eliúde.”

Sadoc quer dizer justeza, da qual Aquim é o produto. Achim é o mesmo que Joaquim, o

segundo pilar do Templo de Salomão, sendo Boaz o outro pilar, descrito no caminho

místico. São esses dois caminhos pelos quais ascende o fogo da coluna espinhal para a

regeneração do corpo, sendo este o do caminho ocultista, com a ajuda do Deus de

Judá, o significado de Eliúde.

“Eliúde gerou Eleazar; Eleazar a Matã; Matã a Jacó; Jacó a José, esposo de Maria, dos

quais nasceu Jesus.”

Eleazar significa Deus ajudou. Matã quer dizer um presente. Jacó significa o que

suplantou e José, a vara que floresceu. Coletivamente, significam que o Deus de Judá

ajudou à humanidade a dar um presente a Deus, cujo processo resultou na vara que

floresceu, ou seja, a Força da Vida ascendeu pela coluna espinhal até a cabeça. José, a

mente espiritualizada, uniu-se à Maria, o coração puro, gerando o Menino Jesus. O

Filho foi cristianizado com o Poder de Deus, que desceu como uma pomba.