22/02/2015

Fragmento Esotérico do CAMINHO

"Vejo um edifício, enorme. No muro frontal uma estreita porta, as folhas abertas, atrás, vapores sombrios. Defronte ao elevado umbral, uma jovenzinha... 

Uma linda jovem russa. Um sopro desses vapores opacos e glaciais, trazendo das profundezas do edifício, dentro de uma corrente glacial, o som de uma voz audível e pausada. 
- Oh, tu, que aspiras ultrapassar este umbral sabes o que te esperas? 
- Sei, responde a jovenzinha. 
- O frio, a fome, o ódio, as zombarias, o desprezo, a injustiça, a prisão, a doença, mesmo a morte? 
- Sei. 
- Estás disposta a ser rechaçada por todos? Estás disposta à completa solidão? 
- Estou preparada para isso. Eu o sei. Suportarei todos os sofrimentos e infortúnios. 
- Mesmo se não vêm dos inimigos, mas sim dos parentes? .
- Sim... mesmo deles. 
- Bem. Aceitas o sacrifício? 
- Sim. 
- O sacrifício anônimo? Morrerás e ninguém... 
ninguém saberás nem mesmo a que memória honrar. 
- Não tenho por que ter reconhecimento nem piedade. Nem por que ter um nome. 
- Estás preparada para o crime? 
A jovenzinha baixa a cabeça. 
- Mesmo para o crime. 
A voz que a interroga não continua imediatamente. 
Finalmente recomeça:
- Sabes que um dia poderias não crer mais do que agora crês e chegar a pensar que te enganaste e que foi por nada que perdeste tua jovem vida? 
- Isso também sei. Mesmo sabendo-o, quero entrar. 
A jovenzinha atravessa o umbral, cai uma pesada cortina. 
Rangendo os dentes, alguém profere, atrás dela:
- Uma boba!
Ao que responde uma voz, vindo de alguma parte:
- Uma santa!"

Este fragmento de origem esotérica da uma idéia do acesso ao CAMINHO. 

O "Caminho tem um sentido único". Quer dizer que, para aquele que com ele se compromete, o caminho de volta está proibido. 

Não em virtude de qualquer imperativo externo, mas pelo fato de que cada passo no Caminho modifica irrevogavelmente o conteúdo interior de quem nele se comprometeu. 

Em conseqüência disto, torna-se, mais e mais estranho ao seu meio; perde mais e mais interesse pela vida exterior, da qual ontem ainda participava plenamente. 

O aspecto das coisas e sobretudo dos seres, sofre, a seus olhos, uma profunda mudança. Se surpreenderá, um dia, ao constatar que certos rostos, nos quais ainda ontem encontrava marcas de grande beleza, deixam agora, transparecer marcas de bestialidade. 

Quanto mais progride o homem no Caminho, mais se acentua nele um sentimento de ser estrangeiro. Logo, se tornará tedioso; um pouco mais tarde, insuportável; finalmente, odioso. É por isso que

"... não há profeta sem honra senão na sua terra, entre seus parentes e na sua casa".

Aquele que quer comprometer-se nos estudos esotéricos é convidado a refletir duas vezes e a suspeitar de tudo antes de lançar-se a ultrapassar o "fosso-umbral". 

Porque, repitamo-lo, não lhe será mais possível voltar à vida exterior e ali encontrar, como no passado, satisfação e prazeres. 

De toda forma, ao lado das dificuldades, que são os primeiros resultados de sua evolução, o homem receberá impressões reconfortantes, sobretudo nas suas relações humanas. 

Surpreender-se-á ao perceber, um dia, que certos rostos que ainda ontem lhe pareciam comuns, resplandecem hoje, a seus olhos, com uma beleza deslumbrante. É porque seu olhar, aguçado pelo trabalho esotérico, adquire a faculdade de penetrar além da aparência. 

É entre esses seres mais límpidos que encontrará seus novos amigos. Sua sociedade o receberá como um dos seus. Ali será compreendido e a comunidade de interesses e objetivos será para todos uma ajuda e um estímulo. 

(Livro - Gnose)